segunda-feira, 21 de junho de 2010

NOVO ENDEREÇO

O Blog Desconstruçao e Critica esta sendo atualizado em outro endereço. http://desconstrucaoecritica.wordpress.com/

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um suspense muito engraçado e um pelo amor ao cinema

Mia Farrow em The Purple Rose Of Cario

Diane Keaton e Woody Allen em Manhattan Murder Mystery


Mesmo não sendo mais a mesma Annie Hall de 1977, Diane Keaton consegue manter, quase sempre, aquele charme da garota atrapalhada que encantou os olhos do diretor Woody Allen. No filme de 1993, Um Misterioso Assassinato em Manhattan , mais uma vez, com algumas homenagens a grandes nomes do cinema. Percebi alguns elementos básicos de suspense. Como o uso da câmera na mão em algumas cenas de ambiente apertado. Ou a ausência total ou a presença minimalista de trilhas sonoras características. Aquele lance de esquecer algo e voltar para casa, quando na casa tem alguém que não espera ser encontrado e que vai parar em baixo da cama. O filme possui tudo que um suspense competente possuiria se não fosse pela presença categórica dos cacoetes de, nesse caso, Larry Lipton. Entediada da vida, Carol Lipton começa a desconfiar do seu vizinho com relação à morte da esposa dele. Algo que lembra Janela Indiscreta e faz um gênero bem interessante. A cena do elevador é, talvez, a mais inspirada do filme. Quando Allen fica preso com Keaton e quando descobrem a presença de um cadáver no teto do elevador, a luz apaga. Enfim, elogios a parte. Um ótimo roteiro e uma direção como sempre muito competente. Eu estou sempre falando nas referências que Woody Allen costuma fazer a diretores que formaram sua concepção de arte no cinema. Isso não é característica apenas dele. Muitos fazem isso. Alguns não escolhem diretores específicos, porém escolhem o cinema de uma maneira mais abrangente. Utilizando uma metalinguagem um tanto sinuosa, grandes diretores falam de seu amor pelo cinema. Nesse caso, falarei de A Rosa Púrpura do Cairo. Declaradamente, o filme preferido, entre os seus, de Allen. Trata-se de uma história um tanto fantasiosa, onde um ator, simplesmente, sai da tela no meio de uma apresentação e passa a viver um romance com uma espectadora. Mia Farrow não podia estar mais encantadora como a mocinha submetida ao marido desempregado e que possui uma paixão imensa pelo cinema. Indo ver a exibição de um filme que dá nome ao próprio filme. Uma brincadeira com o real e o imaginário que mostra os lados que existem do cinema. Caracterizando-os como real e imaginário. De início, Cecília apaixona-se pelo personagem, depois pelo ator. Na vida da personagem o cinema representa um mundo onde os sonhos estão sempre presentes, mas que podem ser puxados para a realidade de uma maneira um tanto grosseira. Cecília deixa-se levar pela sua inocência e quando confia no ator preocupado com sua carreira, acaba decepcionada e sozinha, voltando para sua vida prejudicada pelo marido e pela crise atual no país. A cena final é dramática e completa. O que eu quero destacar é a presença do cinema como personagem na história. Algo que está presente na vida do diretor. Fazendo um final potencialmente feliz, em função da trajetória fantástica do desenvolver da história, puxar o espectador e a própria Cecília encantada pelo mundo do cinema, trazido para sua vida de maneira atropelada e confusa, transformar-se em um final seco e realista. Woody Allen recusou mudar o final alegando ser o mesmo o ponto principal do filme. Uma construção incrível e um roteiro impecável.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Questão de Gosto

gravações de laranja mecânica


Não é questão de definir o bom e o ruim no cinema. A questão é ter a consciência de que existem tantos bons e tantos ruins, não importando quem defina o critério. Infinitas listas aparecem constantemente e acumulam opiniões, que muitas vezes convergem em alguns pontos, bem como divergem em outros. Essas listas não definem nada. Pelo simples motivo da essência do que se trata. Parece óbvio, mas vale ressaltar que ninguém vê o mesmo Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971) por motivos que excedem a produção até mesmo para quem a cria. Existem pessoas que assistem ao filme com a intenção restrita de acompanhar o desenvolvimento da história, traçar interpretações idiossincráticas, amarrar pontos potenciais de abordagem, enfim, não se pode chegar a um consenso, uma vez que toda obra possui uma individualidade tão suprema que foge aos olhos de quem quer que seja. Isso se aplica a toda forma de arte. O papel dos cinéfilos é tirar o filme da tela. Eu posso achar um filme muito bom, derramar elogios em cima dele. Minha opinião não tem obrigação de convergir com outras e tornar comum um critério individual, que por mérito do filme, distribui-se entre muitas opiniões. Porém, nós sabemos que existem, sim, filmes grandes e pequenos. Citei Laranja Mecânica pelo simples fato de admirar o trabalho de Stanley Kubrick e gostar muito desse título. O que está fora da tela nesse caso é o fato de que pessoas viram e a partir de então decidiram tornasse cineastas. Laranja Mecânica influenciou muitos diretores e apreciadores de todos os lugares. Característica que não depende de listas ou opiniões para engrandecer o filme. Esse foi um exemplo. Um contra argumento seria o fato de muitos filmes da mesma época não conseguiram atingir patamares do tipo saber encaixar música, movimento de câmera e linguagem verbal e não verbal numa seqüência memorável de abertura. Arrisco-me a dizer que a abertura de Laranja Mecânica é uma manifestação única e estritamente reservada ao cinema. Intransponível para literatura, ou arte que se trate. Refiro-me ao fato de ser quase impossível descrever tal cena em outra manifestação artística ou narrativa. Muitos filmes abraçaram o posto de obra prima e os méritos pertencem ao próprio filme. Como confrontar opiniões que divergem e manter um caráter externo e firme para alguma produção tornar-se obra prima? Pegaremos um clássico do cinema sueco, drama visceral e denso a ponto de ser assustador. Gritos e Sussurros (Viskningar och Rop, 1972), definitivamente, não é filme para ver em família em um programa de domingo. Não é produto de entretenimento. Uma montagem que congela os olhos sobre as cores marcadas em cada momento. A expressão nos rostos remoendo dores inconsoláveis. Por que uma produção que provoca tantas reações torna-se obra prima? A intenção de Bergman era mostrar o drama que movia sua imaginação. E ele consegue. Da mesma maneira que Kubrick em Laranja Mecânica. O talento pra sustentar a obra está na capacidade de transmiti-la. Filmes que mostram cachorros falando ou bebês enganando pessoas com suas mentes super desenvolvidas podem ser obras primas. No instante em que ocuparem seus personagens com um mínimo de consideração. Quando possuírem estrutura para desenvolver um roteiro interessante e original. Quando os bebês possuírem, além de um estereótipo aceitável pela simpatia, uma expressão que não deve ser convincente, não é questão de apenas convencer, mas que possa infiltrar seu personagem em muitos espectadores. Fazer com que eles acompanhem o ritmo do filme, que quando é ruim deixa brechas para conversas e até para comentários a respeito da péssima qualidade do filme. Definir um bom filme é tarefa difícil e merece muita atenção. Mas trata-se de um exercício gratificante e compensador.

FILMES CITADOS:

Gritos e Sussurros (Viskningar och Rop, Suécia, 1972, dir: Ingmar Bergman)

Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, USA/UK, 1971, dir: Stanley Kubrick)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Desconstruindo Harry

Woody Allen, Elisabeth Shue e Billy Crytal em Desconstruindo Harry


Woody Allen teve coragem pra fazer muitos filmes em um ritmo incansável. Em meados dos anos 90, com sua carreira um tanto abalada ele constrói uma história que se encaixa nele com uma propriedade maior que os outros antigos. Trata-se de um escritor reconhecido e cheio de problemas psicológicos e familiares. Harry Block utiliza seus familiares atingindo seus defeitos com uma acidez descarada e levando em conta um nível determinado por ele, sem o menor consentimento, para criar personagens para suas obras. You take everyone's suffering and turn it into gold, literary gold!” Este é um dos relatos de seus familiares a respeito da criação de seus personagens. Fica claro que o próprio personagem de Harry Block funciona como os demais personagens ficcionais, encaixando-se no próprio Allen. Um roteiro extremamente criativo, ágil e, principalmente, mergulhado numa seleção de piadas fortíssimas que são moldadas sob medida a todos os quais passam aos olhos do diretor. Alguns personagens e cenas deixam o filme um pouco afastado da seriedade maquiada pela comédia de filmes como Memórias (Stardust Memories, 1980), por exemplo. O papel do demônio por Billy Crystal é um exemplo de como Allen deixou um pouco a comédia acima do toque de drama comum em seus filmes. Essa questão de ponderar comédia com drama tornasse menos importante quando o roteiro tem estrutura para tornar o filme original. Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, 1997) é um ótimo filme com um que de autobiográfico e sustentado na criatividade quase inesgotável de Woody Allen. A cena do elevador em direção ao inferno deixa bem claro algumas opiniões do diretor. Cenas hilariantes como quando Kirstie Alley discute com Harry na presença de um paciente. Fica claro também uma referência ao filme Morangos Silvestres (Smultronstället, 1957) do diretor sueco Ingmar Bergman, declaradamente um dos diretores favoritos de Woody Allen. Seja na cena em que Demi Moore acompanha Allen numa visita imaginária com sua família ou quando podemos ver os closes no rosto do protagonista no carro durante as cenas na estrada. Não é questão de classificar como comédia, drama ou coisa parecida. O ato de criar uma historia vem antes da história em si, ficando a cargo exclusivo do roteirista e, nesse caso, também do diretor.

domingo, 23 de maio de 2010

O Lutador

Mickey Rourke e Evan Rachel Wood em O Lutador (The Wrestler, 2008)


É fácil ver certa repugnância da parte do público com filmes que envolvem lutas, principalmente luta com caráter de puro massacre e homens ensangüentados. Porém, é preciso deixar bem claro que o filme O Lutador (Wrestler, The, 2008) não é uma promoção de um esporte ou biografia de algum lutador famoso. Trata-se de um drama carregado com questões que envolvem a vida do protagonista enquanto ser humano. Randy “The Ram” Robinson é um lutador que fez muito sucesso nos anos 80 e levou uma vida dedicada a prática da luta até não possuir mais nenhuma perspectiva e encontrar-se frente a idade e a percepção do fracasso. Randy construiu uma vida onde seu corpo era sua fonte de trabalho, não teve nenhum mérito profissional ou sentimental. Sua vida foi afundando junto com sua carreira. Quando ele sofre um enfarte, acaba percebendo como não possui amigos, nem família próxima ou relação fixa com nada, a não ser com aquilo que acabara de perder. Frente a sua aposentadoria, Randy enfrenta uma crise existencial onde não encontra saída para uma solidão que pesa como uma culpa em sua vida. Randy sustentava sua carreira com o pouco que para ele era suficiente, coisas do tipo ouvir o público gritar com sua presença, ser lembrado por um golpe característico. Ele freqüentava um clube noturno, onde uma dançarina, Cassidy (Marisa Tomei), parecia manter uma identificação com ele, em função de ser uma das mais velhas do grupo e depender do seu corpo. Podemos perceber como o fracasso na vida de alguém pode ser construído sem que se perceba e possa agir a respeito. No caso de Randy, o filme consegue abordar dentro de um ambiente escuro reforçado pela fotografia pesada e quase sempre ofuscada nas cenas de solidão, principalmente, em contraste com a fotografia clara das cenas com a presença da filha. A atuação, bastante comentada, do Mickey Rourke foi fundamental para mostrar o interior solitário de um brutamonte cheio de cicatrizes. O diretor Darren Aronofsky foi responsável por uma escolha certa que sai da tela quando nós fazemos uma ponte com a própria carreira de Mickey Rourke. O personagem esbanja realismo mesmo nas cenas violentas das lutas programadas ou quando discute o rock dos anos 80. Uma das cenas importante do filme mostra um clichê um pouco gasto, porém incrivelmente interpretado. Randy conversa com a filha e implora para que ela não o odeie. O filme inteiro possui algo de independente que incrementa a vida fracassada de um lutador aposentado. O final de O Lutador mostra uma cena com caráter incompleto, porém mais que suficiente para deixar a vida de Randy ainda mais sem rumo, como se voltar pra ringe fosse sua única escolha. A entrada no ringe, quase como um palco para ele, ao som de Sweet Child O’ Mine é finalizada com um discurso que encaixou no personagem perfeitamente. A luta deixa Randy dentro do seu mundo sem garantias de sobrevivência por muito tempo, mas acaba o filme com o rosto satisfeito de Mickey frente a sua realidade e em seu melhor estilo.